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15 DIAS PÓS-PARTO

  • Foto do escritor: Mariana Pignatelli
    Mariana Pignatelli
  • 23 de jul. de 2019
  • 8 min de leitura

Resumindo muito curtamente, para que faça sentido a explicação do pós-parto, explico o final da minha gravidez e o meu parto.


Não me posso queixar da minha gravidez no geral, o Lourenço nunca me deu enjoos nem grandes problemas durante 27 semanas.

Mas as últimas 9 semanas da minha gravidez não foram fáceis, foram uma corrida contra o tempo porque o Lourenço fazia de tudo para nascer.

Acabou por nascer prematuro mas com os cuidados necessários pois os médicos já nos tinham preparado para o pior.


O problema é que toda a medicação que levei durante 9 semanas para manter o Lourenço cá dentro, no momento exato de o expulsar, já com 10cm de dilatação, fez com que o meu colo do útero em vez de estar permeável à saída dele, tenha endurecido por completo e me tenha sido necessário fazerem-me uma episiotomia e por consequência tirar o Lourenço por ventosas.


Tive o melhor parto do mundo, nunca senti nada. Tanto que adormeci ferrada e quando acordei tinha os 10cm de dilatação completos sem me ter apercebido.


O meu parto em si foi rápido, durou 8 minutos. O único problema foi realmente a tal complicação no meu colo do útero devido a toda a medicação que tinha tomado para o manter cá dentro. Foi-me então feita uma episiotomia, que consiste num corte desde o períneo até perto do rabo, fazendo-me levar 8 pontos externos, fora os internos que nem me disseram quantos foram.


No final de cada parto, é suposto a placenta sair facilmente, pois bem, a minha insistia que não queria sair, então a médica teve de dar muitos puxões até ela sair, o que levou a mais perda de sangue, e tudo isto teve consequências na minha recuperação pós-parto. Neste momento já sentia mais ou menos tudo, senti cada puxão feito na placenta e cada ponto que levei.


Quanto ao Lourenço, nasceu e fez o teste do Apgar (teste ao 1.º e 5.º minuto, que avalia o recém-nascido, se está a reagir bem fora do útero ou se precisa de alguma ajuda) e no caso dele, à 1.ª deu 10 e à 2.ª deu 10, que é o valor máximo. Ele não foi para a incubadora nem nasceu com problemas. Foi o meu milagre no meio de tudo o que aconteceu nas últimas semanas.

Após o corte do parto, tive uma recuperação muito dolorosa, o meu corpo não reagiu bem aos pontos, perdi a minha independência porque não conseguia levantar-me da cama, tendo uma cama automática no hospital e tudo, não conseguia mexer-me muito, estar deitada de barriga para cima ou debruçar-me no berço para pegar no meu filho e tira-lo da cama. Sempre que queria pegar no meu filho tinha de carregar na campainha e pedir às enfermeiras que mo trouxessem, e admito que me custou bastante.

As dores eram intensas e continuavam a ser, dia após dia. Reforçaram-me a medicação e lá tive algum sossego.


Cheguei ao 3º dia de vida do Lourenço e uma enfermeira da parte da Neonatologia veio ter comigo a dizer-me que tinham de levar o meu filho durante 24h para uma máquina por ele estar amarelo. Na minha cabeça deixei de ouvir a explicação a partir do momento em que ela disse “tem de lá ficar pelo menos 24h”, então na minha cabeça, cansada, com dores, fiz um drama daquele momento. Tranquei-me na casa de banho e chorei muito, para que o meu filho não ouvisse nada nem sentisse. Durante 9 meses tive o Lourenço dentro de mim, foi estranho deixar de o sentir, foi como se uma parte de mim já não fosse minha e ainda me levaram essa parte para longe de mim 24h? Foi assim que vi as coisas.

Quando me acalmei e cai em mim, perdi à enfermeira que me explicasse tudo como deve ser, e lá percebi que ele só ia ficar 24h numa espécie de solário, eu podia trocar a fralda na mesma, dar banho e amamentar. O que para mim eram 24h com ele no colo, passou a ser apenas pegar nele 30 minutos de 3 em 3 horas.

Durante a madrugada, estava eu a acordar para ir à ala de Neonatologia amamentá-lo, quando de repente sinto uma dor enorme no peito! Vou rapidamente à casa de banho e olho-me ao espelho, e ia morrendo quando vi a subida de leite que estava a ter, tinha mamas até às clavículas, parecia que tinha posto silicone! Chorei, esperneei, enquanto as enfermeiras me ajudavam a minimizar a situação. Toalha quente, a espremerem-me as mamas e eu a sentir como se as minhas mamas queimassem por dentro. Deu-me mais do que o parto.

Esta subida de leite foi realmente horrível, mas foi o que despertou o meu corpo para voltar a ir ao sítio. Comecei a ficar menos inchada dos pés e pernas, comecei a perder a barriga que ainda tinha e sentia o útero a voltar rapidamente ao lugar. Dois dias depois, a subida acalmou. A minha recuperação pós-parto a nível físico foi fantástica porque a subida de leite fez com que tudo fosse ao sítio, mas em tudo o resto, foi e ainda é dolorosa.

Entrando no 4º dia pós-parto, foi o dia em que deram alta ao Lourenço e supostamente a mim. Quando me estavam a dar alta, decidiram fazer análises e descobriram que estava mal, a minha hemoglobina tinha descido de 11 para 6.5. Andei 4 dias com os valores num nível perigoso, mais baixo do que este, sem que ninguém se apercebesse, pois tive sempre uma força que me puxava para cima: o Lourenço. E o bem-estar dele era tudo o que me preocupava, então não apresentava sintomas de nada, sem ser o tom de pele. Pois durante 24h, de 3 em 3h percorria um corredor enorme desde o meu quarto até à neonatologia para ir dar de mamar ao Lourenço, e dizem que com aqueles valores não era suposto ser possível fazer isso. Mas se algum jeito, o meu filho foi a minha força sem sequer saber que estava mal.


Posto isto, quiserem fazer-me uma transfusão para resolver a situação na hora, mas optei por um tratamento na veia muito mais demorado em termos de ficar tudo resolvido. Entre ficar boa na hora, e levar até 1 mês a ficar bem, optei pela segunda opção, pois confiei no meu corpo, que até à altura ainda não me tinha falhado. O que é certo, é que 5 dias depois de ter iniciado o tratamento consegui passar de 6.5 para 8.3, coisa que os médicos acharam que nunca ia ser possível. Estavam a contar com 7 no máximo, mas de alguma forma o meu corpo reagiu porque saiba que tinha alguém a depender e a precisar de mim.

Hoje já recuperei a minha cor, porque até aqui estava branca branca branca (consequência da falta de hemoglobina).


O 5º dia consegui passá-lo em casa sem grandes stresses, até que adormeço e quando acordo de madrugada para dar de mamar, tive de ligar à minha mãe para vir tirar o Lourenço do berço, pois eu tinha deixado de me conseguir mexer ou levantar, com dores infernais. Tentei aguentar as dores, mas não estava a dar mais, então liguei para a Saúde24 que me transferiu para o centro de saúde. Tentei tomar um banho para aliviar, vesti-me e voltei a perder a minha mobilidade. Andar? Era impossível. Sentar-me? Era impossível. Deitar-me? Era impossível. Conseguia estar de pé mas parada apenas. Descer as escadas de minha casa foi o maior desafio, chorava a cada degrau que descia.


Cheguei ao centro de saúde e tinha a minha medica de família à espera, quando ela em conjunto com a enfermeira me observam, dizem que tenho de ir já para o hospital. Abriram as minhas pernas e viram os meus pontos, e viram que os pontos estavam a “estrangular” entre eles, e a criar uma bola. E era essa bola que me tinha deixado naquele estado.


Chamaram uma ambulância, dei de mamar antes de entrar nela e lá fui eu em direção ao hospital, sozinha, sem o meu filho. Cheguei ao hospital e apanhei a equipa médica que me tinha começado a fazer o parto, o médico abriu-me as pernas e ia tendo um ataque. Disse que me ia tirar os pontos antes de tempo e que na pior das hipóteses, podia correr mal e ter de levar pontos novamente, mas graças a deus correu tudo bem quando ele tirou os pontos. Quando ele me começa a tocar nos pontos, eu começo a berrar, mas a berrar a sério.

Sabem quando vêem filmes e as pessoas estão a parir? Eu estava assim, só de ele me tocar nos pontos. A minha mãe chegou ao hospital nesse segundo com o Lourenço e estava a passar no corredor quando me começa a ouvir berrar dentro do consultório. Tenta entrar para me ajudar, mas a enfermeira não deixou. Eu continuei a berrar e a chorar como se não houvesse amanhã, e sou sincera, foi das dores mais intensas que alguma vez já senti na vida. Volto a dizer, doeu-me mais que no parto.

Sai de lá como nova, apesar das dores continuarem a ser intensas, mas para mim já não eram nada, porque já me tinham tirado os pontos, que era tudo o que precisava. Claro que isso foi temporário, e no dia a seguir as dores já me incomodavam, mas nada como naquele dia.


9º dia pós-parto e tínhamos ido a uma consulta de rotina. O Lourenço foi internado novamente por estar amarelo, eu já estava bem mas tive de ficar internada com ele. Foram 9 dias “infernais”, quando tudo parecia encaminhar-se, ficava tudo mal.


15 dias depois e ainda não me consigo sentar sem dores, nem consigo apertar os sapatos porque ainda estou muito reduzida de mobilidade (maldito corte), também ainda não consigo conduzir nem fazer esforços, ou seja, pegar no ovinho do Lourenço é impossível.

Estes 15 dias foram um turbilhão, foram complicados, mas olhar para ele, vê-lo feliz, vê-lo a sorrir, compensa cada segundo. Escusado será dizer que assim que ele teve alta e chegámos a casa, começaram as malditas cólicas, e que cada dia tem sido infernal porque ele está em sofrimento.

A cada dia que passa sinto-me com menos dores, tenho menos perdas de sangue, o Lourenço já não está mais amarelo e estamos num bom caminho. Foram 15 dias difíceis em que pareceu que estava tudo contra nós, mas que me mantive sempre optimista, feliz, com um sorriso na cara à espera que depois da tempestade viesse a bonança.


Acabei por fazer amizade com todas as enfermeiras daquele hospital, acabei por receber carinho de todas elas, que procuravam por mim todos os dias mesmo estando escaladas numa ala diferente, mas que me iam dar um beijinho de força. Foi uma estadia por péssimos motivos, mas foi uma estadia óptima.


Um enorme obrigada não chega para todas as enfermeiras da ala de Ginecologia-Obstetrícia e da ala de Neonatal, que todos os dias nos ajudam e nos fazem sentir em casa. Cuidaram do Lourenço quando eu não consegui, deram-me dicas sobre tudo, salvaram-me da subida de leite, deram-me a mão durante todos os processos pelos quais passei.


Durante as últimas semanas de gravidez, jurava aos meus amigos que nunca mais na vida ia ter um filho, porque 9 semanas em casa, com dores, sem conseguir dormir, conseguem mexer com o psicológico de uma pessoa. Mas assim que senti o Lourenço a sair de dentro de mim, ouvi o choro dele e o colocaram no meu colo, foi uma sensação maravilhosa. Foi um alívio senti-lo a sair, e foi a melhor sensação do mundo pegar nele, pegar nele nu, com os líquidos todos à volta dele ainda, foi mágico porque senti que ele saiu mesmo de dentro de mim. O amor que senti naqueles segundos, ficou para sempre. Mas foi um amor que nunca antes tinha sentido, nem sabia o que era sentir aquilo. Dizem que é este sentimento que anestesia as mães e as faz esquecer a dor do parto, e querer voltar a ter mais filhos. Na realidade é isso que sinto! Uma anestesia a tudo ao que correu mal e foi doloroso e uma vontade de sentir aqueles minutos finais do parto novamente. É certo que afinal ainda quero e vou ter uma Constança, para fazer companhia ao Lourenço, mas acho que ainda vou esperar uns anitos 😂 por agora vou só viver este amor com o Lourenço, que não me canso por um segundo e voltava a viver tudo vezes sem conta.


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