O MEU PARTO
- Mariana Pignatelli
- 21 de ago. de 2019
- 7 min de leitura
No dia em que fiz anos, senti os pés demasiado inchados e decidi passar no centro de saúde para perguntar à enfermeira que me acompanhou ou à minha médica de família se era normal e o que poderia fazer para diminuir o inchaço, sendo que nos últimos dias dormia de pés para cima e mesmo assim não ajudava em nada.
Quando a enfermeira me viu, seguiu o protocolo e mediu-me a tensão, qual não foi o espanto quando o meu valor normal é 8 ou 9 e a minha tensão estava no 14. Muito apressada, ligou para a médica de família que me encaminhou diretamente para o hospital mais próximo.

O meu plano de festas era: ir almoçar com a minha mãe, passear o resto do dia e finalizar jantando fora com o João. No dia seguinte tinha combinado almoço de anos com os meus amigos e eram estes os planos, que claramente saíram furados.

Sai então do centro de saúde e fui em direção ao hospital, onde dei entrada às 18h30. Cheguei e fiz logo CTG que acusou imensas contrações, e de seguida fui avaliada pelo Dr. Inácio, um médico impecável, que foi sempre claro e explicou sempre tudo. Assim que ele me observa diz que estou com o colo apagado novamente (início de trabalho de parto), que o meu colo tinha passado dos 20mm para os 11mm, 1cm de dilatação e quando me fazia o toque conseguia sentir a cabeça do bebé. Disse que era para internar imediatamente pois se as águas me rebentassem, o bebé nasceria logo.
Fiquei em pânico porque estava tudo programado para ter o meu filho na Maternidade Alfredo da Costa e estava nas urgências do Hospital das Caldas da Rainha, pronta a começar todo o processo de ter o bebé.
O médico foi bastante compreensivo e disse que eu podia escolher, que me deixava ir jantar fora, refletir no assunto, fazia-me a reavaliação da minha situação e depois decidia o que queria fazer à minha vida. E assim foi.
Fui jantar a um Sushi a 5 minutos do Hospital, beber a minha última coca-cola antes de ter o Lourenço, e segui para o hospital.

Quando lá chego e faço a reavaliação, tinha passado de 1cm de dilatação para 2cm, então tomei a minha decisão de ficar já no Hospital e ter o Lourenço lá, em vez de correr o risco de o ter a caminho de Lisboa. Liguei muito calmamente à minha mãe, avisei os meus amigos que iam almoçar comigo no dia a seguir que já não iria acontecer e fui então internada.
O João, a pessoa que me acompanhou durante maior parte da gravidez, indo comigo a urgências, consultas e ecografias, ficou do meu lado desde que entrámos nas urgências até que a minha mãe chegasse ao hospital.
A minha mãe chegou e eu fui então admitida para o internamento, sendo transferida para o Bloco de Partos. No bloco de partos a minha mãe podia passar a noite comigo, o que foi excelente.

Estive sempre ligada ao CTG e para além de contrações que iam ao 100 (valor máximo), nada de novo acontecia. Deu-se a troca de turnos e o turno novo decidiu dar-me medicação que acalmou as contrações e interrompeu o processo de entrar em trabalho de parto.

Às 12h fui transferida para a ala normal, onde podia caminhar, receber visitas, comer, fazer tudo. Recebi então os meus amigos, e às 17h apanhei a enfermeira Anabela no corredor, que me acompanhou em várias urgências, e disse que estava na hora de fazer uma reavaliação. Quando vai a ver, tinha atingido os 3cm de dilatação, e continuava sem sentir as contrações ou qualquer alteração corporal.
Atingindo os 3cm de dilatação, ela disse: “está na hora da epidural. Queres tomar? Eu aconselho, vais agradecer-me no fim.” Fui então ao corredor falar com os meus amigos e com a minha mãe e disse “chegou a hora”. Dentro de mim estava um mix de sentimentos pois sabia que a partir da epidural, ia mesmo ter o meu rebento nos braços!
18h20 e tinha acabado de levar a epidural, pedi à enfermeira Bela para me dar a mão durante a administração da epidural pois tinha ouvido horrores sobre levá-la.

O anestesista Francisco foi impecável e descreveu o processo todo, passo a passo antes de ir fazendo as coisas. Isso ajudou muito pois já estava preparada para sentir X ou Y. Quando ele acabou de dar a epidural eu só disse “mas foi só isto?!” nem custou nada. E comecei automaticamente a sentir uma dormência enorme nas pernas. Muito calmamente deitei-me e aguardei que deixassem a minha mãe entrar no meu quarto. Antes dela chegar, a enfermeira Anabela disse que estava na hora de me rebentar as águas, então foi buscar uma agulha gigante, onde fiquei cheia de receio, e rebentou-me as águas. Muito sinceramente não doeu rigorosamente nada, senti um alívio enorme ao sentir aquela água quente toda a sair de dentro de mim.
Entretanto a minha mãe chegou, e eu continuava muito bem-disposta. Continuou do meu lado hora após hora e não existia grande avanço.
Dentro de mim aumentava a ansiedade de conhecer o Lourenço e de o ter nos meus braços. Como estava perto a hora de o ter, não podia comer nada, então andava a gelatina e calipos. As horas foram passando até que por volta das 22h vieram fazer-me uma reavaliação. Estava com quase 6cm de dilatação! A hora aproximava-se cada vez mais.
Aconselharam-me a usar a bola de pilates para dilatar mais, mas com a epidural era suposto não me conseguir levantar, contudo eu conseguia e lá fui toda contente para a bola.
Por volta da 00h trocaram os turnos, e a enfermeira Ana entrou, examinou-me e disse que tinha sofrido um retardo, de 6cm tinha passado para 4cm. Pararam então toda a medicação e mandaram-me parar com a bola também, pois tudo isso é que estava a causar o atraso e também o retrocesso do processo.
Por volta da 1h da manhã, a enfermeira Ana vem dizer à minha mãe que ela pode ir para casa que o Lourenço não nascia antes da manhã seguinte, e mandou-me dormir. Eu disse à minha mãe baixinho “não vás, ele vai nascer. Vai a casa só tomar um banho e volta rápido”. E assim o fez.
Fechei os olhos e adormeci logo, a epidural teve esse efeito em mim. Acordo por volta das 2h30 com umas dores de rins, ao início estranhei mas depois virei-me para o outro lado e ferrei novamente.
Por volta das 3h40 acordo e sinto dores mais intensas nos rins, toco à campainha para chamar uma enfermeira e digo “estou a epidural ou desligaram-na? É que estou cheia de dores nos rins”. Ela abre-me as pernas e só diz “onde está a sua mãe?” ao qual eu respondo “a caminho. Vá, diga-me lá com quantos centímetros estou”. A resposta foi “9, quase 10cm. Mantenha a calma e certifique-se que a sua mãe chega entretanto.”
Foi nesse momento que o meu coração quase parou de ansiedade, percebi que estava realmente na hora de conhecer o tão esperado Lourenço!
A minha mãe chega, e eu digo “mãe, está na hora”. A enfermeira voltou e ensinou-me a fazer força para expulsar o bebé, ajudando-me a treinar para o grande momento, pois eu nunca senti as contrações nem sabia quando haveria de fazer força.
Estive a fazer força e mais força até perto das 4h30. E nada do Lourenço sair. Comecei a ficar um bocadinho desesperada por nunca mais o ter nos braços e lembro-me que comecei a gritar “só quero que ele saia”. Nesse mesmo momento, agarram na minha cama e levam-me para a sala do Bloco de Partos, com uma médica a acompanhar-me. Uma médica presente nunca é bom sinal, é sinal que houve uma complicação qualquer, e assim foi…
Saio da minha cama, para a marquesa que estava no bloco e a médica começa a mandar-me fazer força em determinado momento, de repente sinto um corte a ser feito desde o períneo até ao rabo e pensei “estou tão lixada”. Ela manda-me fazer força novamente ao mesmo tempo que uma enfermeira coloca as mãos dela na minha barriga, fazendo força para o bebé sair e foi nesse momento que vivi a melhor sensação que alguma vez estive exposta na vida, sei que também foi a última força que conseguiria fazer pois estava exausta de dias a fio no hospital e de andar a fazer força há quase 1 hora.
Foi aí que senti o Loureço a sair de dentro de mim, com os líquidos todos que ele tinha no corpo e foi uma sensação mágica, e sinto-o finalmente no meu colo, onde o pude finalmente abraçar. Tudo isto durou apenas 8 minutos, sim, o meu parto durou apenas 8 minutos.

Lembro-me que comecei a chorar, não sei se de força, de cansaço, de felicidade ou se tudo junto, e sei que foi nesse momento que a minha vida mudou para sempre. Tinha acabado de conhecer o amor mais puro de toda a minha vida, e aquele pequenino deu só um choro mal nasceu e assim que foi para o meu colo, não chorou mais, sentiu que estava finalmente nos meus braços.
As enfermeiras foram pesá-lo, vesti-lo e fizeram o teste do apgar que deu 10 ao 1º minuto e 10 ao 5º minuto, soube então que graças a Deus o meu filho não iria para uma incubadora!

Enquanto as enfermeiras cuidavam do Lourenço, a médica estava há 20 minutos a tentar tirar-me a placenta. Ela puxava, puxava, puxava e foi aí que deixei de estar sob o efeito da epidural e comecei a sentir tudo. Eu já chorava, a pedir que ela me desse uns segundos de alívio, mas ela continuava a dar puxões, até que finalmente a placenta sai! Que alívio enorme! Normalmente as placentas saem facilmente, mas a minha não queria sair.
Posto isto ela teve de me costurar e aí é que começou tudo a complicar. Eu esperneava sentir cada ponto a ser dado, colocaram o Lourenço em cima de mim e eu só queria agarrar algo com força, então pedi à minha mãe que o segurasse!

Assim foi, a médica deu os pontos todos e fui levada para o quarto com o meu gordinho de 2,5kg ao colo.
No quarto ensinaram-me como dar de mamar e foi algo tão estranho. Segui todos os conselhos das enfermeiras, mas só hoje sozinha, após ter dado de mamar inúmeras vezes é que consigo ter a certeza que o estou a fazer bem.

O meu parto não foi mau, foi bastante bom porque nunca senti nada. O que se sucedeu para eu ser cortada e o Lourenço ter saído de ventosas, é que com toda a medicação que levei ao longo da gravidez, na altura do parto, o meu colo do útero ficou rijo em vez de ficar permeável e o Lourenço não tinha como sair sem ajuda.
Tive então a hora mais pequenina de sempre, até às 3h40 da manhã estive completamente calma e como se fosse mais um dia normal e só posso agradecer por isso. Podia ter tido dores infernais e ter tido um parto terrível como muitas outras o tiveram.
Contudo só posso agradecer a sorte que tive, e também a sorte que tive de ter o meu filho são e salvo nos meus braços.
O meu amor: Lourenço, 07-07-2019

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