AMEAÇA DE PARTO
- Mariana Pignatelli
- 7 de jun. de 2019
- 5 min de leitura

No dia em que completei as 31 semanas, comecei a ter umas dores muito estranhas e saiu-me novamente um pouco do rolhão. Tentei não entrar em pânico e deslocar-me ao hospital mais próximo do local onde me encontrava.
Chegando ao hospital, a primeira avaliação que me fazem é um CTG, que acusa contrações de 10 em 10 minutos, indo até ao pico máximo de 100 (Para quem não sabe o CTG funciona entre valores de 1 a 100, sendo o 1 uma não-contração e o 100 uma contração super forte). Como o CTG estava a acusar essas contrações todas, tive de ir ver como estava o valor do colo do útero, quando de repente só começo a ouvir “colo do útero apagado” “o valor está baixo demais” e foi aqui que o meu coração apertou. Não perdi tempo e perguntei logo o significado de “colo do útero apagado” não me pareceu uma frase boa, ao qual me respondem que estava em trabalho de parto. Acho que o meu coração parou por segundos, os meus olhos encherem-se de lágrimas quando ouvir “vamos começar imediatamente as injeções para maturar os pulmões e vai ser transferida para um hospital com neonatologia para bebés com 31s pois aqui só temos condições para aceitar a partir das 34s).
Começaram a dar-me muita medicação, chamaram uma ambulância e fui transferida diretamente para a Maternidade Alfredo da Costa (MAC). A viagem de ambulância foi complicada, ninguém podia entrar comigo e ir comigo sem ser a enfermeira, pois podia ter o parto a qualquer segundo. Foi uma viagem dolorosa a nível psicológico mas mantive-me calma e positiva para não passar nada ao meu filho.
Chegando à MAC, fui colocada num quarto de parto. Onde só ouvia “bloco de partos” “colo apagado”, e o CTG continuava cheio de contrações. O colo do útero continuava com 1 dedo de dilatação, e felizmente não tinha avançado desde que saí do outro hospital!
Após vários médicos no meu quarto, disseram-me para guardar todas as minhas coisas, inclusive telemóvel, pois iria para uma ala restrita, dos cuidados intensivos, se não estou em erro.
A situação lá não melhorou, tiveram de me controlar a cada segundo, CTG constante, soro, medicação, e tiveram de me começar a dar o medicamento para o cérebro do bebé, que quando tomado tem de ser controlado através do xixi da mãe, o que significa que é preciso ligar uma Argália à uretra, (não sabendo nunca quando se está a urinar), o que posso admitir que foi extremamente desconfortável nas primeiras horas. Posto isto estava proibida de me levantar ou mexer muito, tinha um enfermeiro sempre comigo a cada segundo na sala, que não se ia embora por nada. Tiveram inclusive de me dar banho na cama...
As horas iam passando e as contrações não iam diminuindo. A equipa do bloco de parto veio falar comigo, ver como eu estava e explicar-me como seriam as coisas, foram super simpáticos mas eu disse: vou ficar bem, deem-me só umas horas e vão ver. Ao fim de 10h consegui, e confirmaram-me que a ameaça de trabalho de parto estava estabilizada! E ao fim de pouco mais de 24h conseguiram estabilizar as contrações. Fui logo transferida para uma ala com outras grávidas, fora de risco e de perigos! O meu bebé estava estável, eu estava estável e estava tudo encaminhado.
Durante todas essas horas, tive de me manter positiva e esperançosa, tive de meter na minha cabeça que apesar de tudo estar mal, tudo iria melhorar, tive de arranjar forças por mim e pelo meu filho, pelo menos até ter as 4 doses das injeções dos pulmões tomadas para ser seguro.
Até à data não tinha decidido o nome do meu filho, mas o pânico foi tanto de o poder ter antes de tempo, que acabei por o chamar de Lourenço, o meu pequeno guerreiro.
Posto isto fiquei os restantes dias até hoje, na ala das grávidas onde fazem os partos induzidos, e admito que também não foi confortável de todo, todas as situações que assisti por lá, sendo mãe de primeira viagem acho que dispensava saber e ter assistido a tantos pormenores sobre partos! Mas ao menos sempre estive acompanhada. Inúmeras mãe induziram o parto ao meu lado, tiveram os seus bebés e voltaram de propósito ao quarto para me mostrarem os bebés e dizerem que correu tudo bem, criei ligações com algumas delas, (mesmo tendo sido pouco o tempo de convivência) e mesmo tendo sido uma experiência má, não me posso queixar de todo pois foi fantástico ao mesmo tempo. A equipa médica que me assistiu foi incansável, os médicos, os enfermeiros, os auxiliares, toda a gente me acolheu de uma forma carinhosa e fizeram-me sentir segura e descansada. Claro que houve uma fricçãozinha com um elemento ou outro, mas nada que a minha simpatia constante não tenha ajudado para os domar.
Quando damos entrada numa situação destas, estamos apavoradas e as enfermeiras têm o cuidado de chegar ao pé de nós, apresentarem-se e dizerem que estão lá para nós sempre que precisarmos, e parecendo que não, isso deixa-nos mais tranquilas e faz a diferença. Se me perguntarem a opinião sobre a MAC, só vos vou falar bem pois adorei o tratamento por lá a todos os níveis. As enfermeiras sempre me diziam que eu ainda ia fazer a minha sessão fotográfica e o meu baby shower, se não, faziam-me elas lá!
E não é que vou mesmo conseguir fazer tudo isso ainda? acabo então hoje a minha estadia pelo Hotel, super feliz e aliviada! os médicos disseram que com 32 semanas e tudo controlado já posso ir para casa, com muito juízo e cuidados redobrados. Voltando daqui a 15 dias para ver como está tudo, e começando a ser seguida na unidade de risco.
Pode ter sido uma experiência péssima mas sinto-me abençoada por tudo ter corrido da melhor forma possível.
Os médicos disseram que se tivesse chegado 2h mais tarde ao hospital, se calhar este não seria o panorama, por isso aconselho a todas as mamãs a sempre que sentem algo errado se deslocarem ao hospital pois cada segundo conta! Eu adiei umas horas na esperança que tudo passasse e isso poderia ter sido um risco, por vezes precisamos mesmo de cuidados médicos, mesmo que pareçam coisas banais. Imaginava lá eu que estava em trabalho de parto... só espero que na hora da verdade, o meu parto também seja assim, estar quase a ter o meu menino sem dores, e só o sentir quando ele estivesse quase a sair, era óptimo!
Eu e o Lourenço estamos oficialmente em casa, a aguardar pelo tão esperado dia, mas de preferência daqui a mais umas semaninhas 💙
Disseram-me hoje que o meu pequeno está com 1,700g e 42cm, e só penso como é que uma coisa tão pequena deu tanto trabalho!
Como mães temos de ir buscar forças que nem sabíamos que tínhamos, e o melhor mesmo é mantermo-nos sempre positivos em relação a tudo, pois não há melhor forma de combater o mal com boas energias. Hoje deito-me e penso o quão abençoada e agradecida sou.
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