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GRAVIDEZ: AOS OLHOS DE UMA GRÁVIDA

  • Foto do escritor: Mariana Pignatelli
    Mariana Pignatelli
  • 11 de jun. de 2019
  • 7 min de leitura

A gravidez é algo muito sensível e as pessoas menosprezam as grávidas de tal modo que me tem feito confusão. Uma gravidez é tão importante como quando o bebé está do lado de fora, aliás, até acho mais importante a fase da gravidez porque é nela que criamos um ser vivo que vai sentir TUDO o que sentimos, que vai estar a ser preparado dentro de nós, que vai ser alimentado em função do que nos alimentamos (e nem sempre é fácil comermos sem fome), que vai estar calmo em função de estarmos calmas ou não, que está completamente dependente de nós e que não há como colocar outra pessoa a tomar conta dele porque durante 9 meses ele é APENAS e exclusivamente nossa responsabilidade.


Para quem acha que uma gravidez é só a junção de gametas, “acartar” um bebé 9 meses e ter o parto, muito se engana. A gravidez é mágica mas é muito cansativa. Eu posso afirmar que tive a sorte de não ter enjoos nem coisas chatas, tive uma gravidez de Santa nesse aspecto, mas tive outras coisas chatas.

Estar grávida é bonito mas é muito stressante, não ver o bebé e assim não saber como ele está consegue ser aterrorizante, principalmente quando ele não se mexe muito tempo e entramos em pânico.


Tenho sonhos loucos em que perco o meu filho, que me levam, que tudo corre mal e acordo em sobressalto, por isso não durmo uma noite inteira sabe Deus desde quando: tenho sempre xixi, tenho fome, o gordinho decide acordar-me com pontapés nas costelas, o meu stress e medo de não ser capaz fazem-me acordar a meio da noite, é um stress constante. Tenho tido dores de morte que nenhum médico que sabe dizer o que são, tenho tido anemia apesar de tomar a medicação, e tenho a tensão baixa demais, não posso comer determinadas coisas e não posso fazer coisas que gosto (inclusive ir a um spa relaxar deste stress todo), também já não tenho veias de tirar tanto sangue para tentarem descobrir o que se passa vs conferirem de x em x tempo que está tudo bem. Já fiz mais ecografias nesta gravidez do que se tivesse estado grávida 5x diferentes e já fiz mais visitas a hospitais nestes 8 meses que em toda a minha vida, aliás até consigo fazer-vos visitas guiadas, até os seguranças já me conhecem de tantas horas que passo em urgências.


Sabem o que é adormecer no carro entre um trabalho e outro? Ou enquanto se espera por algum amigo e ficar ferrada durante 2h ou mais sem ter capacidade de abrir os olhos e lutar contra o sono? Pois eu descobri o que isso era. Um cansaço extremo do nada, um cansaço constante.


É ter desejos ridículos, estar a preparar a comida e quando acabada de cozinhar o desejo já ter passado e ter começado outro desejo diferente. É ter medo de sempre que vá fazer xixi, me rebentem as águas. As grávidas têm medos estúpidos é verdade, mas ninguém para além de nós, sabe qual é a responsabilidade de ter outro ser dentro de nós.

Temos tantos medos porque nos preocupamos e queremos o melhor para os nossos filhos, isso incluir querermos que eles fiquem o máximo de tempo dentro de nós de forma saudável.


É do nada acharmos que estamos a cometer a maior loucura das nossas vidas ao estarmos grávidas e pensarmos “aborto? Dar para a adopção?” E do nada estar a chorar de arrependimento por nos ter sequer passado essa ideia pela mente. E porque nos passa isto pela cabeça? Por nos lembrarmos do parto e decidimos que não queremos mais isto com medo de lá morrer, ou com medo que algo corra mal, e que o nosso filho fique sem nós. Sim o parto, algo que é assustador aos olhos de uma grávida, por ser o momento mais incerto e não sabermos o que esperar.


Consigo também chorar por ver uma pessoa a contar a história de vida dela, ganhar hepatia com pessoas que fazem coisas muito erradas só porque ouço o lado delas e vejo a história de vida, ficando com vontade de as abraçar, mesmo sendo estranhos.


É estar a chorar num segundo por o céu ser azul e no segundo a seguir estar a rir por ter chorado de tal baboseira. É ver o meu corpo estagnado por ter 7 meses de gravidez e só ter engordado 2kg e ficar com pânico de poder não estar a alimentar o meu bebé corretamente e estar a prejudicar a saúde de ambos, quando no fundo estamos os dois bem e simplesmente cada corpo é cada corpo.


E podia ficar o dia todo a falar das razões pelas quais a gravidez é o momento mais importante da vida de um ser vivo e pela qual é das fases mais difíceis e que mais precisamos de apoio. Tudo o que acontece em nós, é tudo o que vamos transmitir para eles.

O meu filho ouve a voz do pai e reage, só começou a dar pontapés com ele, só se deixou sentir a primeira vez do lado exterior com ele. Eles sentem, eles sabem tudo. E sentem a ausência, que é o pior. Desde que o pai foi embora, o pequeno não tem sido mais o mesmo. O meu stress não ajuda, mas chego ao ponto de colocar vídeos onde tenha a voz do pai só para o acalmar. A presença do pai é realmente importante, não é só a partir do momento do parto para a frente.


Durante 9 meses precisamos de todo o apoio, mas durante 9 meses somos rebaixadas, por vezes somos abandonadas, por vezes somos despedidas, por vezes somos postas na rua na casa onde morávamos, por vezes tem sempre uma voz maldosa a mandar-nos abaixo, toda a gente se acha no direito de começar e de dar palpites “és muito nova” “cometeste o maior erro da tua vida” “só devias ter filhos depois dos 30” “vais perder a tua vida daqui para a frente” “nunca mais vais dormir” “não era o momento certo”.


Meus amores há uma coisa que é certa: nunca sabemos quando é o momento certo e nem nunca sabemos se estamos preparados agora para isto, mas a vida é mesmo assim! Põe-nos à prova, dá-nos desafios, e nunca mas nunca sabemos o dia de amanhã, só temos de estar preparados para qualquer coisa que aconteça e saber reagir. E ninguém tem o direito de se meter e mandar bocas, ou dar opiniões porque meus amores todos temos telhados de vidro e pela boca morre o peixe. É muito cruel da vossa parte fazerem-no, principalmente quando sabem 1/5 da história que está por trás do que quer que seja. Nem vocês têm de ditar quando é a altura certa.


Podemos ter todos a mesma idade, e eu posso ter um contrato a efetiva a receber o suficiente, ter uma casa, ter um carro e vocês estarem a trabalhar 1 mês aqui, outro mês ali, a morarem em casa dos papás e a usarem o carro deles. A idade não dita nada, o que dita é a maturidade.


Não vivi tudo o que tinha para viver, mas já tive bastantes experiências: já sai sozinha de Portugal para ir explorar a Europa por exemplo. Já apanhei todo o tipo de bebedeiras e já conheci todo o tipo de discotecas, já fui a N festivais, já fiz todas essas coisas que não tenho mais curiosidade de continuar a fazer desde que comecei a trabalhar. Prefiro ir beber um copo com os meus amigos e ficar num sítio calmo do que me enfiar numa discoteca, beber até cair para o lado, não conviver com ninguém e estar apenas a ouvir música.

Já fiz o que me deu na cabeça, já fiz coisas por impulso, já fiz tanta borrada, e muito me falta pela frente ainda, mas não me posso queixar de falta de experiências.

Mas a vida é longa, por agora terei um ser a depender de mim por uns longos anos mas nada me estagnará. O que não faço hoje, poderei fazer na mesma daqui a 6 anos, não é por isso que vou ser mais infeliz.


O meu sonho de vida sempre foi ser mãe, e coincidente sempre quis ser aos 24 e de gémeos, com o passar do tempo defini ser aos 28 e quando descobri aos 23 que estava grávida só rezei para que não fossem gémeos como tinha idealizado 😂 neste momento tenho o meu sonho a concretizar-se, apesar de ter alguns projetos pendentes que gostaria de ter realizado antes disto, mas tenho um dos meus maiores sonhos a caminho e isso é o mais importante!


Com este texto todo só gostaria de apelar às pessoas por um bocadinho mais de bom senso.


Uma gravidez tem inúmeros lados que as pessoas não vêm e não sabem, não é doença nem é invalidez, mas cada corpo reage da sua maneira e sim pode ser doença e invalidez, dai existir a baixa de risco.


Acho que todos devem respeitar o outro, não é apenas por se estar grávida. E acho que hoje em dia falta muito isso, o respeito, a entreajuda, a compreensão, acho que existe demasiado a crítica, o comentário maldoso, o dar a opinião venenosa, o ser mau. E sinceramente isso é o que me deixa com mais medo de trazer uma criança ao mundo, é de ver o lado negro das pessoas. Mas acredito que tenho capacidades de transmitir ao meu filho os melhores valores e tentar começar a criar um mundo melhor fazendo isso, ele seguirá o caminho que tem a seguir mas eu vou estar aqui para o tentar guiar e ajudar o máximo que puder.


Respeitem as pessoas, respeitem especialmente as grávidas que têm uma tarefa muito importante durante 9 meses. Não abandonem as vossas companheiras por elas estarem grávidas, e se as abandonarem pelo menos não abandonem os vossos filhos, estejam presentes durante todo o processo, priorizem os vossos filhos a qualquer coisa na vossa vida, mesmo estando eles na barriga da mãe, porque eles sentem muito mais do que vocês podem imaginar.

A todos os empregadores, não despeçam mulheres grávidas e muito menos lhes compliquem a vida no trabalho de modo a se despedirem ou colocarem baixa, isso é muito errado, colocarem essa pressão psicológica numa pessoa hormonalmente alterada.

A todos os senhorios, não se metam a inventar que podem definir que uma pessoa pode ou não ter um filho na casa que vos alugou.

A todos os estranhos que se metem a mandar bocas sem saber, a fazer comentários maldosos: fiquem caladinhos no vosso canto, não espalhem veneno.


Tenham mais respeito pelo outro, pois não sabem o vosso dia amanhã.


E a todas as grávidas, muita força! Conseguimos tudo pois temos forças a duplicar!

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