top of page

LOURENÇO: O BEBÉ ARCO-ÍRIS

  • Foto do escritor: Mariana Pignatelli
    Mariana Pignatelli
  • 8 de jul. de 2019
  • 7 min de leitura

Hoje senti uma certa necessidade sobre falar sobre este tema: os meus filhos.

Muitas pessoas me perguntam várias coisas sobre esta gravidez, muitas porque têm maldade, outras porque têm curiosidade e algumas por preocupação.

A realidade é que uma pessoa nunca está preparada para ser mãe ou pai, essa preparação vem com o tempo, vem com a aprendizagem e com a experiência da situação em si. Muitos de vós dizem “ah não é o momento certo”, mas quando será esse tal momento? Ao longo da gravidez vivemos momentos de “sou capaz, isto vai correr bem “como passamos para “meu deus, não sou capaz de fazer isto”. mas tudo muda no dia do parto.


Uma gravidez é uma grande responsabilidade, é normal termos momentos em que nos sentimos as super-mulheres como passamos a sentir que estamos a fazer a coisa mais errada de sempre. Conseguimos ter as ideias mais absurdas na cabeça e de seguida chorarmos por algo tão tolo nos ter passado sequer pela cabeça.


As pessoas vêm um filho como uma prisão, como “a tua vida acabou agora” mas eu vejo o meu filho como “a minha vida começou agora”. Claro que tudo vai mudar, claro que vou deixar de sair à noite como se tivesse 16 anos (já nem vontade de o fazer tinha), claro que vou ter a responsabilidade de ir por uma criança e buscar à escola assim que saia do trabalho, claro que vou ter menos disponibilidade tanto de tempo como monetária para fazer as coisas que fazia, mas tudo isto iria mudar um dia porque o meu sonho realmente sempre foi ser mãe. E porque não numa altura da minha vida onde tenho juventude e não me sinto cansada mentalmente para tomar conta de alguém, estabilidade, a minha mãe ainda está viva para ser avó, a minha avó ainda está viva para ser bisavó, e conseguir proporcionar tudo tendo todo o apoio do mundo. Não há tempo certo na vida para nada, nunca sabemos o dia de amanhã e o que se vai passar na nossa vida, por isso o importante é fazermos o que querermos sem querer saber das opiniões alheias.


Claro que se pudesse esperar mais 2/3 anos teria esperado, foi algo que me saiu um pouco dos planos. Mas ele antecipou-se e escolheu-me, sendo que me escolheu exatamente neste momento sem me dar grande opção de escolha, sem ser aceitar este desafio. Sei que ele andava a olhar para mim todos os dias, há muitooooo tempo, e que andava desejoso de chegar ao meu ventre, sei que ele veio até mim para me salvar da perda do irmão e que foi enviado pelo irmão como “salvador” da dor que sentia, pela perda que anteriormente tinha sofrido. Foi enviado com intuito de eu não saber que ele cá estava até estar tudo realmente seguro, e ATENÇAO, NÃO foi enviado como substituto, NÃO foi enviado como primeiro filho, foi enviado como o meu segundo filho e não me envergonho por um segundo de dizer isto.

Sabiam que 50% das mulheres na primeira gravidez podem sofrer de um aborto espontâneo? Pois foi o que me aconteceu da primeira vez. Algo deste calibre pode mexer com o nosso cérebro de uma maneira ridícula!


Houve dias que não me quis levantar, houve dias que nunca mais me passou pela cabeça ter filhos e que desisti completamente da ideia, houve dias que a dor era maior que tudo o resto e uma perda, é sempre uma perda, ainda por cima uma perda dentro do nosso ventre.

Achei que nunca iria encontrar a altura certa para engravidar, ou sequer sentir-me capaz de o fazer, ou encontrar a pessoa certa para o fazer e achei que iria adiar para sempre por causa da dor que sentia, que iria inventar desculpas no futuro sempre que me falassem em ter um filho, achei que iria ser uma ideia difícil de voltar a colocar na minha cabeça, e por isso este bebé escolheu-me sem me dar opção para me salvar desta dor e desta ideia, e veio para mudar tudo.


Continuo a ter os meus medos tolos, continuo a ter medo de perder este amor que sinto a crescer dentro de mim, mas é perfeitamente normal. Ainda por cima dado o historial das últimas semanas da minha gravidez estarem a ser o pânico.

Mas o que importa e que todas as mães que tenham sofrido o mesmo que eu, é que têm de se focar que tudo é possível de concretizar e fazer acontecer. Demore o tempo que demorar, seja o número de vezes que for, Deus traz até nós os nossos bebés arco-íris, e quando menos esperarmos.

Quando não o sinto durante muito tempo entro em pânico, mas desta vez consegui o que não consegui da outra vez, cheguei a um ponto em que o meu bebé é viável e que pode sair a qualquer momento que será perfeitamente capaz de sobreviver do lado de fora.

Em Portugal já houve uns quantos casos de bebés a nascerem às 24 semanas e sobreviverem, não é impossível, mas é complicado! Sendo que o ideal é das 26 para a frente o risco é menor, e eu já passei esse marco. Por isso já atingi a maior meta que me trazia o maior pânico. Dizem que durante a gravidez, o local mais seguro em que um bebé pode estar é dentro da barriga da mãe, mas isso traz uma responsabilidade enorme. E em caso de mães que já sofrereram abortos, traz um pânico ainda maior.


Quando as pessoas acham que a gravidez é algo fácil e bonito estão enganadas. Nem tudo corre da mesma forma para toda a gente, cada corpo é um corpo e cada pessoa tem o seu medo. Sempre que me dói algo de uma forma irregular, a minha preocupação é ir ao hospital saber dele e não de mim e da dor que sinto, é apenas saber dele por ter medo que ele esteja a sofrer, que se passe algo com ele ou algo do género, e assim que põem o coração dele a bater no monitor é instintivo: começo a chorar de alívio.


É em momentos como este que percebo que o meu papel de mãe já começou, colocar a vida do meu filho em primeiro lugar, prioriza-lo em tudo e zelar pelo bem-estar dele. Num estado normal, se me doesse algo sem estar grávida tomaria um medicamento qualquer e nem queria saber, mas quando há uma vida dentro de nós é completamente diferente o sentido de responsabilidade, de preocupação, de termos de estar bem porque há alguém que depende de nós.


É como se o nosso coração não estivesse mais no interior do nosso corpo, como se tivesse sido passado para o corpo de outra pessoa e nos sentíssemos completamente vulneráveis caso algo aconteça com essa pessoa. É uma sensação boa, e que vem com toda uma responsabilidade que por vezes nem temos bem noção.


Durante os primeiros 6 meses só tinha engordado 2kg e isso para mim sempre foi visto como algo mau, sentia que podia não estar a dar suficiente ao meu bebé e que ele poderia sair prejudicado por atitudes minhas, quando entrei nos 7 meses aumentei no total 5kg, e agora estou a engordar 500g semanalmente (ainda só vou nos 7,5kg mas já me sinto muito mais aliviada). Significa que o valor que aumento, é apenas o valor que ele aumenta de peso, e isso não é algo mau! Significa que vou sair toda fit do hospital no dia em que ele nascer e que ele até deve nascer pesadinho.


Hoje em dia vemos casais juntos que se separam, casais que viveram juntos para sempre, filhos que nunca conheceram nenhum dos pais, filhos que não conheceram o pai, filhos que não conheceram a mãe, N situações, e basicamente não sabemos o dia de amanhã. Podemos criar uma família e sermos felizes juntos para sempre, ou podemos estar juntos com a pessoa e quando o bebé nasce, tudo dar errado, ou até mesmo durante a gravidez dar tudo errado.


O principal é que nunca sabemos o dia de amanhã, tudo o que planeamos pode sair furado e o que hoje parece ser a altura certa, amanhã pode ser a altura errada. Com isto quero dizer que toda a nossa vida é uma incógnita, não vale a pena planearmos cada passo ao mais ínfimo pormenor porque se for preciso a vida encarrega-se de nos trocar as voltas.

A vida trocou-me as voltas, se é o momento certo ou o momento errado, de nada importa, o que importa é reagirmos de frente aos desafios que a vida nos propõe, é superarmos perdas, medos e dores, é adaptarmo-nos a novos cenários e não desistirmos nunca de procurar sempre o que nos faz feliz.


Amo viajar e quando o meu filho nascer vai ser mais complicado, mas jamais vai ser o meu impedimento para o fazer, jamais vou desistir das coisas que gosto, simplesmente vou adaptar-me a uma nova realidade, com ele, e não tenho dúvidas nenhumas que será uma nova realidade muito melhor. Acho que deixei de ver o amor com os olhos que via e descobri uma nova forma de amar, que jamais quero largar.


Este bebé é sem dúvida o meu bebé arco-íris, é toda a luz e o sol que vem após a chuva ou uma tempestade, que vem para trazer esperança sobre uma dor antes criada. O Lourenço não é o meu salvador, mas a realidade é que conseguiu salvar-me da dor e do pânico que sentia, é a minha esperança após todos aqueles dias negros em que sofri, de que tudo é possível e que não devemos ficar presos em dores do passado, mas sim libertarmo-nos e enfrentarmos a dor de frente.


Quanto ao bebé que perdi, jamais irei esquecer a sua presença. Levou a todo este ensinamento pelo qual estou a passar agora e não podia estar mais orgulhosa. Apesar de doer, tento não ficar mais triste cada vez que me lembro do que aconteceu, pois sei que continuar em sofrimento não me leva a nada, o melhor que posso fazer é abraçar esta nova oportunidade, que tenho a certeza que foi o meu bebé que enviou até mim. Por isso obrigada meu amor por tomares conta do teu irmão, por o teres enviado até mim são e salvo, por olhares por ele e por mim todos os dias, e obrigada por esta oportunidade, prometo que me vou esforçar para ser a melhor mãe do mundo! Até sempre 💙

Comentários


©2019 by Mariana Pignatelli

Formulário de Assinatura

bottom of page